domingo, 6 de março de 2011

Filomena Teixeira, mãe de Rui Pedro: “Vai voltar e eu estarei à sua espera”

«Filomena tem esperança de voltar a estar com o filho, Rui Pedro, desaparecido em 1998, então com 11 anos.

- Filomena, de 49 anos, continua a acreditar que voltará a ver o filho-

"Não lhe perdoo. Nunca. Ele tem de ir para a cadeia." Revoltada mas sem forças, Filomena Teixeira tenta falar o menos possível de Afonso Dias, o homem de 33 anos acusado há uma semana de rapto qualificado de Rui Pedro, o seu filho. "Ele tem de ir para a cadeia", reforça Filomena, que espera, embora sem grandes esperanças, que Afonso explique em tribunal o que aconteceu ao menino, desaparecido há 13 anos.

Nos primeiros tempos, "Méninha", como é carinhosamente tratada em Lousada, escrevia diariamente ao filho. Mas deixou recentemente de o fazer. "Passei a escrever em ‘post-it’ tudo o que faço relacionado como o Rui Pedro. Depois colo-os em capas transparentes que arquivo. Está tudo guardado no quarto dele, que nunca foi mexido. Só tem caixotes de processos que juntei para ajudar a procurá-lo", explica a mulher a quem roubaram o direito de acarinhar e ver crescer o filho.

Pouco resta do que era antes do dia 4 de Março de 1998. "Esta angústia corrói-me todos os dias. Já estive internada várias vezes e houve uma vez em que nem reconhecia a minha família", explica Filomena, de 49 anos, com o olhar vazio. "Ele há-de voltar, entrar por aquela porta, e estarei à espera dele. É nisso que penso todos os dias", conta Filomena, no único momento em que os seus olhos, vidrados de emoção, ganham uns segundos de luz.

Filomena Teixeira conta que os últimos dias têm sido particularmente difíceis. Depois de ter procurado tudo, seguido todas as pistas, todos os enganos, a acusação contra Afonso traz um trago amargo de derrota. "Deveriam tê-lo obrigado a falar naquele dia, forçado a dizer onde levou o Pedro", acentua. As noites é que continuam a ser um terror. "Vejo o Pedro. Vejo-o e não o consigo alcançar", desabafa.

AFONSO EM SILÊNCIO
A acusação do Ministério Público apanhou Afonso Dias e a esposa de surpresa. Quem o diz é uma amiga da família, que afirma também que, neste momento, o homem suspeito de raptar Rui Pedro prefere manter-se em silêncio. "Ele já contratou um advogado e, por agora, não quer falar. Nem ele, nem a mulher", revelou.

Entretanto, na urbanização do Carvalhal, em Freamunde, Paços de Ferreira, ninguém avistou Afonso Dias na última semana. "Vi-o no domingo à noite, mas depois ele saiu com o camião", contou Eva Matos ao CM.

É também esta vizinha da família Dias quem afirma que Afonso costuma passar a semana inteira fora de casa. "É motorista internacional e chega a estar 15 dias sem vir a Portugal", sustentou.

A informação é confirmada por outros vizinhos, que atestam, de igual modo, o carácter reservado de Afonso. "Aqui, toda a gente sabia que ele tinha estado envolvido no caso do desaparecimento do menino. Mas não tenho nada a dizer dele, nunca arranjou problemas, embora também não conviva muito com as pessoas", contou uma comerciante.

Natural de Lousada, Afonso Dias vive em Freamunde, terra natal da esposa, de quem tem um filho de oito anos.

ABANDONOU BAIRRO SOCIAL
Após o desaparecimento de Rui Pedro, Afonso Dias e os pais abandonaram o bairro social onde viviam e foram residir para uma urbanização. "Não sabemos bem como, mas um ano depois ele apareceu cheio de dinheiro e comprou uma casa nova", explicou ao CM um familiar de Rui Pedro. O homem gastou uma elevada quantia a mobilar a nova casa, onde agora vive com o filho e a mulher, e tratou também de dar uma vida mais luxuosa ao pais.

PAIS EM CONTACTO COM LISBOA
"Falo quase todos os dias com a procuradora Cândida Almeida. Estamos sempre em contacto. Toda a equipa tem sido muito atenciosa connosco", revelou ontem ao CM Filomena Teixeira, que admite que a intensificação da investigação para acusar Afonso de rapto qualificado era do conhecimento da família há muito tempo.

"Nós não podíamos era dizer nada, mas sabíamos de tudo o que estava a ser feito", realçou, esperando que possa haver um novo fôlego para saber o que aconteceu ao menino, na altura com 11 anos. "A nossa esperança é que esta acusação venha dar um novo desenvolvimento ao caso", sublinha Manuel Mendonça, pai de Rui Pedro.

AVÔ GASTOU FORTUNAS
O pai de Filomena liderou uma luta incessante para tentar encontrar o neto, até que um acidente de tractor lhe roubou a vida. "O meu pai gastou fortunas com pessoas que diziam saber do Rui Pedro. Infelizmente não viveu o suficiente para ver o neto de novo", desabafa Filomena, que agora está a apoiar a mãe, internada no hospital de Penafiel após ter sido operada à bacia.»


in CM online, 06-3-2011

8 comentários:

  1. Já tentei enviar um comentário sem sucesso, espero conseguir.

    Queria dar uma palavra de força a todos os que sentem esta dor e incerteza cortantes, especialmente aos pais de Rui Pedro. Vi a vossa entrevista à TVI e queria dizer-vos que, apesar de não percebermos muitas vezes, Deus quer o nosso melhor. Entreguem-se ao Pai, é o que podem fazer. Rezem, rezem sempre muito. Ele há-de acudir-vos, acreditem.

    E força nesta nova etapa (mais uma). Têm a minha admiração.

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  2. A Sra. tem sido uma mulher de coragem. Nunca perdeu a esperança de vir a reenconrar o seu filho, Rui Pedro. Deus queira que tal aconteça. Um abraço de solidariedade: António Almeida

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  3. Acabo de saber agora da sentenøa do caso e fiquei incredula com os resoltados de tantos mëses de espera para estes pais.De facto ë a justiøa que temos.FForøa para esta famïlia.

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  4. Querida Filomena, antes de mais a minha solidariedade, como mulher e mãe. gostaria de trocar umas palavras coonsigo por mail Leonor.
    leonor.c.fernandes@gmail.com

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  5. muita forca pra esta mae , deus ajude a lutar todos os dias pois e um desespero enorme todo este sofrimento. um beijo muito pra filomena e familia

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  6. muita forca pra esta mae , deus ajude a lutar todos os dias pois e um desespero enorme todo este sofrimento. um beijo muito pra filomena e familia

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  7. Também eu quero dar um "abraço" de esperança à mãe de Rui Pedro. Hoje , que é o dia das crianças desaparecidas. Por causa deste caso, tenho horrores de deixar a minha filha de 14 anos, sair sozinha à rua...isto até parece ridículo. O meu marido diz que não a posso por numa redoma de vidro....mas às vezes é o que apetece. Tenho visto muitas noticias sobre crianças desaparecidas, mas nenhum me choca e toca tanto quanto este. Filomena, tenha força, muita força....você é um exemplo de coragem, amor e dedicação para mim...um enorme beijo desta "amiga" Rute Coelho

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  8. eu desejo que todas as mães que se encontram nesta situação consigam encontrar seus filhos de novo, espero não seja um atrevimento da minha parte mas já á muitos anos escrevi um poema para a mãe do Rui Pedro e não sei o porquê desse poema ontem me vir parar ás mãos, ontem publiquei-o noutro site e gostaria de o deixar aqui também, se a mãe do Rui Pedro o quiser retirar eu compreendo perfeitamente.o poema tem por titulo Não sei de ti

    Onde estás?
    Tu, que eras a minha esperança
    O futuro eras tu...
    Contigo foi a minha paz
    O meu conforto, a confiança
    De ter na minha mão
    Um tesouro, por mim protegido
    Mas afinal eu não a abri
    E tu, inocente dela escorregaste.
    Foste com o lobo que vestia a pele de amigo.
    Não sei se estás morto, não te pude velar
    Ou serás um morto vivo, só a penar.
    As tuas feições não são as mesmas,
    De quando estavas na minha mão.
    Por que caminhos tenebrosos andas?
    Quantas lágrimas caem no chão?
    As minhas são de sangue
    As tuas de sangue serão.
    Mas eu não posso fazer nada...
    Estou impotente, perdida,
    Que faço? Estou desvairada
    Quem foi que me roubou a vida?
    Tenho que manter a esperança,
    Senão vou enlouquecer.
    Pode haver uma luz na tua mente
    Pode haver um desleixo do carrasco
    E um dia tu conseguirás ver,
    Algo que te lembre quem somos
    E possas recuperar a vida estraçalhada
    Por um ser diabólico e perverso
    Que um dia te arrancou de mim
    E ficou nada...

    Olívia Marinho

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