Há dois anos que famílias portuguesas procuram filhos desparecidos em Espanha. Crianças roubadas por um esquema de venda de bebés que começou na ditadura de Franco.
Quatro famílias portuguesas continuam à procura dos seus filhos roubados em Espanha, desde a ditadura de Franco até à década de 90 do século passado, um caso que o Expresso está a acompanhar.
Dois portugueses casados com espanholas, um casal e uma mulher já viúva disseram ao Expresso que não vão desistir de encontrar os filhos desaparecidos num esquema de alienação de crianças das suas famílias originais que terá atingido 300 mil pessoas em Espanha.
A situação das crianças desaparecidas em Espanha começou a ser desvendada, em 2008, quando a Associação para a Recuperação da Memória Histórica apresentou, no Tribunal de Instrução de Madrid, informações sobre mais de 20 roubos de bebés, durante o franquismo.
Um mês depois, o juiz Baltasar Garzón denunciou que milhares de crianças espanholas tinham crescido em famílias que não eram as suas. Em toda a Espanha, apenas num ano, foram feitas 1500 denúncias, mas 25% acabaram arquivadas por falta de provas.
As primeiras vítimas deste esquema de alienação familiar foram as combatentes republicanas que lutaram na Guerra Civil. Presas, só podiam ficar com os filhos até que estes completassem três anos, a partir dessa idade, as crianças eram entregues às famílias apoiantes de Franco.
Em 1941, uma norma legal determinou que os pais das crianças que ingressassem em instituições assistenciais do regime franquista perdiam o poder paternal, passando-o ao Estado.
Na fase inicial, 30 mil crianças terão sido afastadas das suas famílias. Com o tempo, o sistema aperfeiçoou-se, mas a metodologia era sempre a mesma: retirava-se o recém-nascido à mãe, com o argumento de que era necessário colocá-lo na incubadora. A seguir, comunicava-se a morte do bébé ao pai. Noutro quarto, uma mulher que dera entrada na maternidade, simulando estar grávida, pagava e recebia o bebé como seu.
Para tudo funicionar melhor, eram falsificadas certidões de nascimento e de óbito. Numa das unidades hospitalares haveria, inclusive, um bebé morto, guardado num congelador, e que era mostrado aos pais mais insistentes.
Alguns portugueses, imigrantes em San Sebastián, não conseguiram escapar a este sistema. Fragilizados economicamente e sem o domínio da língua local, foram alvos do roubo de bebés. Não desistem de encontrar as crianças, já fizeram queixas na polícia e aderiram à associação de familiares que procuram crianças desparecidas.
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